Lucia, uma tia que não vejo
há tempos convidou a gente pra jantar lá e como tou reformando casa no feriado,
acho que vou abrir mão de comandar os trabalhos de Pessach este ano.
Olha, acho que o mais bonito é o
acender das velas, que é você – chefe da casa – que faz com a cabeça coberta por um
tecido. Castiçais bonitos e lenço lindo, isso é importantíssimo. Tem de ser no
momento do por-do-Sol. Em casa, a gente costuma fazer às 19h , mas se as
pessoas se atrasam muito na família de vocês marca pra mais cedo e não se
preocupa em servir nada antes. Come-se e bebe-se muito durante o jantar.
O Zezé (ou a Flora), ou a
criança mais nova da casa tem uma missão: perguntar por que essa noite é
diferente das outras. Na minha casa fica valendo a criança mais nova
acordada, não emburrada, não morta de tédio e que saiba articular três
palavras.
E esconder pedacinhos de matzá
(a afikoman) dentro de lenços pela casa para as crianças procurarem
(e encontrarem) depois do jantar é muito divertido. Eu aprendi que é uma
alegria como encontrar o pão no deserto. Meus avós davam blocos de papel e
canetinhas hidrocor na própria noite só
para quem encontrasse. E davam um jeito para que todos encontrassem. Lembro dos
dias seguintes de Pessach como dias de desenhar até doerem os dedos. Eu talvez
leve livrinhos ou qualquer outra coisa de papelaria para meus sobrinhos-primos,
filhas e enteados. Vai tudo depender do que estiver em oferta na rua 12 de
outubro, a minha nova 25 de março.
Taças para os rituais. Uma você
deixa com vinho uma semana para o profeta entrar em casa. Nunca mais sai a
cor de uva dela, então despeça-se. Os outros são para as passagens. Cada
passagem tem um ou mais goles; às vezes taças inteiras. Então é bom ter suco de
uva pras crianças e cunhados chatos. Eu tenho uma louça que era da minha avó,
que eu uso só para o Pessach e por isso ela é a coisa mais koscher que carrego
da família até hoje.
Ah. Toalhinhas no banheiro, se você for fazer as lavagens das mãos. Eu prefiro
suprimir essa parte sem culpa nenhuma. Afinal, a gente que viveu no deserto
deve entender que, se o Leonardo Di Caprio só toma banho a cada 4 dias, como
podemos nós lavar as mãos quatro a seis vezes durante um mesmo jantar? E molha o
caminho da sala até o banheiro, maior melê. Minha ecologia interna também
agradece essa atualização.
Beijos e bom rasga a meia!