quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Separação

Acordei e almocei. E não almocei qualquer coisa: maxixe com pimenta, língua com chutney não sei de que (mas bom) e arroz. Com alho. Chá de alecrim com gengibre. Já tava enfiada na minha roupa de ir trabalhar no calor quando terminei minha refeição que foi de verdade a principal do dia. Dia de fechamento da revista. Dia de divórcio no centro da cidade. Da editora pro fórum, pela agorofóbica linha amarela do metro, depois de 12 páginas legendadas e liberadas, lia A Arte de Guerra pensando que bom que hoje a vida se resolve. Cheguei no João Mendes antes da hora, reparando nas luminárias Déco equipadas com as lâmpadas da minha cozinha. Comprei uma Coca-cola no Girafa´s que o dia tava quente e a doutora Eliana Sanches, minha devogada, meio atrasada. Quando me viu da porta do fórum, gritou, “de shorts não pode entrar aqui”.  Ali do lado eu já tinha posto o olho numa Barred’s com tudo sempre em promoção. Fomos voando, arranquei a primeira coisa comprida e cinza que vi na arara das saias de escritório, entrei dentro dela enquanto a vendedora tirava o alarme da mercadoria (imagino que com saia roubada também não se pode entrar no fórum João Mendes, pensei em dizer, mas por efeito do livro talvez, guardei a voz pro que viria depois). Na frente da sala da juíza da vara de família tava o Rê, tão fantasiado quanto eu: de camisa branca com cara de acabei-de-te-coprar-aqui-na-frente. Lembrei de quando fizemos as fotos pra Natura e ele apareceu no set travestido de um conjunto bege-nude-creme que fez a Maria dar um pulo: “quem é você e o que fizeram com meu verdadeiro padrasto?” Entramos – claro que eu decepei mais duas ou três cabeças das cobras da medusa de advogada que ele arrumou – e fechamos o ciclo, num documento, redigido durante longos 15 dias pelo supermegaescritório, salpicado de erros de ortografia. Acabou o casamento. E com ele, a guerra de meses. O amor tem uma coisa parecida com o vício: é tão fácil começar quanto é difícil encerrar. Nossa, como nos cortamos nesse caminho. Quando voltei pro metrô, me dei conta da exaustão e do alívio de mil toneladas que sentia no corpo. Voltei para o trabalho. Chorei pela primeira vez em meses.

19 comentários:

  1. Veja como certas coisas que, por suas importâncias, adquirem proporções injustas.Passado o tsunami, o maior do século, pode-se pensar em voltar a construir. Ingênuamente, pois nada mudou.

    ResponderExcluir
  2. Texto bonito, pontuado pela sabedoria do Tótó.
    Um beijo imenso
    Rê.

    ResponderExcluir
  3. Ana,
    os detalhes do texto dão a profundidade do teu momento: um livro, um refrigerante, uma roupa..tudo ganha peso em alguns momentos da nossa vida, que parecem que passam em câmera-lenta para registrarmos os detalhes , pra sempre, na memória. O choro, na volta, é a lavagem da alma. Vida nova, minha amiga. Bjão.

    ResponderExcluir
  4. Jornalista até no momento em que descreve seus problemas, sua dor, seu alívio, tem o dom de elaborar um bom texto. Parabéns pelo texto. Não fique triste. A vida segue. E como segue....

    ResponderExcluir
  5. Irmã venha passear em Piracicaba!!!

    ResponderExcluir
  6. Ana,
    É absolutamente repetitivo, mas tenho que dizer, texto lindo, momento difícil, mas tudo passa, e todo não é sempre um novo sim.
    Beijos e força.

    ResponderExcluir
  7. Quem tem capacidade de escrever um texto tão profundamente simples e lindo não pode ter medo do vicio de amar !!!

    ResponderExcluir
  8. Ricardo Arruda Jr. (@ricardo2nd)1 de dezembro de 2011 às 13:04

    Muito bacana seu texto, embora relate algo tão dolorido (a minha foi muito).
    Mazal tov na sua caminhada.

    ResponderExcluir
  9. "Fuerza en la peruca", beibe.
    Bjs
    Julia Garcez

    ResponderExcluir
  10. Aninha,
    Não tenho palavras, mas tenho ombros, dois braços abertos para te acolher e afeto de sobra. Precisando de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, só chamar.
    Beijo enorme para acalmar o coração e despertar este novo ciclo, que com certeza será lindo, assim como vc é lindo o seu coração.
    Tetê Kikuchi

    ResponderExcluir
  11. Ana, minha linda... Vc bem sabe que tudo ficará bem.

    beijos a abraços daqui.

    Patricia
    PS: Não apareci no niver porque errei a data, apareci uma semana depois e morri de vergonha de contar...

    ResponderExcluir
  12. Oi Ana, sou a mãe do Bento, que tirou a Lucia no amigo-secreto ano passado, lembra? Vim te deixar meu abraço... Quando li o post do Renato pensei na hora: "caramba, como estará a Ana?..."
    Esse ano passei vários perrengues com meu marido que quase encerraram nosso casamento também. Difícil, muito difícil, imagino o que vcs passaram, principalmente ao ler "acabou o casamento e com ele a guerra de meses". E a frase seguinte sobre como é difícil encerrar... Eu e marido demos um tempo, ficamos separados (mas não abri lá no blog), e recentemente estamos tentando uma reconciliação. Não sabemos ainda se dará certo, mas o combinado é que se voltarmos à guerra será o fim definitivo.
    Força, muita força aí pra vcs... E que bom que a relação entre vcs permaneceu amigável, pelas meninas principalmente né...
    beijo grande

    ResponderExcluir
  13. É, pai, cobra que engole o rabo essa tal vida às vezes.

    Rê,apesar de vc dizer que aquela camisa era sua, preciso dizer que parecia um jaleco. Fantasia de técnico de laboratório.

    Andrea, vida nova e uma saia balonê de malha que eu nunca mais vou usar no armário.

    Caríssimo Renato, sim, a caravana segue!

    Narinha, vou sim. Logo. Quer uma saia balonê de malha de presente?

    Sandra,quando Deus fecha uma porta a gente pensa que é o vento, né?

    Anônimo. Morro de medo. Mas amo mesmo assim, mortinha.

    Ricardo, obrigada, o importante é não parar né? E aprender a se vestir adequadamente pra situações também pode ser bom. De shorts no João Mendes, nunca mais nessa vida.

    Julita, é nóis!

    Tereza, minha linda, tou mais que abraçada por você. Saudades.

    Patrícia querida, que nome de blog mais lírico! Devia ter batido lá em casa. Nunca é dia errado pra receber os amigos (vc viu as fotos da Lu de Branca de Neve? Mostra pros meninos e já vai falando que ano que vem eles tem compromisso no começo de outubro)

    Oi, Claudio, de todo, todo o mal mesmo, acho que não. Mas só de poder embainhar a espada já durmo e acordo melhor, viu?

    Sarah, boa sorte, qualquer que seja o caminho que vc tome. Beijo no lindo Bento.

    ResponderExcluir
  14. Puxa, um suspiro longo, mas mais longo que ele e o espanto é o desejo de todo coração que vocês fiquem bem, mas bem felizes. Boas vibrações sempre!

    ResponderExcluir
  15. Quentíssima
    É verdade que vai melhorar, mas também é igual verdade que demora ... quer saber ? Não tenha pressa, tudo que está sentindo é uma "coisa" que nunca sentiu, (que interessante conhecer algo novo quando achamos que já vimos de tudo !)conheça esse sentimento que agora tá no seu coração , não classifique de bom ou ruim ... apenas sinta . Quanto a saia balonê, deixe na gaveta , ela conta sua história ! bjs

    ResponderExcluir
  16. Luares, gracias. Boas vibrações recebidas!

    Re, minha queridissima amiga, tudo passa né? (menos essa moda infame de saia balonê, afe)

    Kelly, minha parasemprecunhada! Vamos nos ver e venha ver Lulucia!

    ResponderExcluir
  17. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir

Diz aí